Era uma segunda-feira ensolarada, mesmo sendo uma segunda-feira de julho, mesmo sendo meio do inverno. A rua já estava movimentada, estava atrasada, meu ônibus descia a rua Augusta a todo gás. No mp3 alguém cantava o amor, nas mãos uma revista discutindo a mania de peitão que assombra nosso país.
Entre um ponto e outro percebi um carro de polícia, um aglomerado de pessoas. Todas olhavam pra baixo, com uma cara desolada, observando aquilo que é nossa única certeza nessa vida. Concluí logo que mais alguém havia morrido.
É chocante como convivemos cada vez mais tolerantes com essa realidade bizarra. A morte é uma cena cada vez mais comum, ninguém mais se assusta, apenas observam e pensam ‘ainda bem que não fui eu.’
A curiosidade venceu a velocidade e o motorista passou bem devagar pela cena. Por impulso olhei para o chão, procurando o objeto de observação que fazia tantas pessoas coçarem e balançarem as cabeças.
Estirada no meio fio uma menina magra, nova, vestida com poucas roupas. Com certeza uma das moças que trabalham durante a noite na Rua Augusta. Sua cabeça sangrava e eu simplesmente não consegui desviar os olhos. Ela era nova, bonita e estava morta.
Não comparar sua idade com a minha foi impossível e por alguns segundos senti o pânico de morar numa cidade onde a segurança é luxo, onde a vida é garantida para poucos. A tristeza de ver a juventude finalizada ali, no chão, no meio da rua, somada ao medo de ter que conviver lado a lado com as pessoas que fizeram aquilo, me deixou chocada. Só consegui rezar, por ela, por mim e por outros. Para nós só resta encarar a frieza dessa sociedade que lava as mãos e finge que não é com ela.
A menina deitada no chão me lembrou uma presa. Uma fêmea caçada pela crueldade dos homens, em gênero e grau. Homens esses que caçam pelo prazer de presenciar a morte. A fêmea morta me fez pensar que estamos precisando muito de uma mãe que olhe por nós.
terça-feira, julho 25, 2006
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2 comentários:
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