O exame médico

Passei a carteirinha na catraca da academia e ouvi o “pipipipi”. Com aquela cara típica que fazemos quando alguma coisa apita nos acusando, perguntei a recepcionista o que estava acontecendo. Ela me informa que o problema é o exame médico que eu havia marcado para o dia anterior, mas não cheguei a tempo. Super solicitas e prestativas, as meninas logo perguntaram:
- Carol, você não quer fazer agora? O médico está livre.
Eu, como sempre, com pressa, atrasada e com vontade de fazer xixi, tentei me esquivar dando uma desculpa esfarrapada, mas não deu certo. Elas acabaram me convencendo de subir e fazer o tal exame. Cheguei no andar e vi havia espera. Desisti da academia e resolvi esperar pelo tal exame.
Minutos depois a porta do consultório abriu, e eu vi um dos médicos mais bonitos de todos os tempos. Ele me perguntou se eu podia esperar só 5 minutinhos e eu, atordoada com toda aquela gentileza e beleza, disse apenas “sim”.
Quando ele me chamou, lembrei subitamente da vontade de fazer xixi. Lembrei também que não tinha me depilado e que estava o dia inteiro com aquele sapato e não tinha feito as unhas e que ele era bonito. Sentei na cadeira, respondi a anamnese, contei todo o historio da minha família e deitei na maca pra irmos de fato ao tal exame.
Quando ele chegou com o estetoscópio perto de mim, uma súbita crise de riso começou a surgir. “Como pode, justo hoje, eu estar aqui fazendo esse exame com esse médico lindo??? Por que eu??” Todas essas dúvidas resultaram num coração um pouco mais acelerado que o normal. Pela primeira vez ele me olhou com uma cara estranha. Em seguida, ele desceu as mãos direto para cima da minha bexiga, transbordando de xixi a essa altura, e apertou. Eu contraí e ele perguntou “dói?”. De pronto eu respondi “não”. Ele me olhou pela segunda vez com aquela cara. E então ele desceu as mãos para a barra da minha calça e começou a levantá-la. Tomada pelo desespero que só as mulheres que esquecem de se depilar conhecem, eu disse:
- Olha, eu não vim preparada para fazer um exame médico hoje.
Terceiro olhar estranho. E ele responde:
- imagina, não se preocupa com isso.
Não se preocupa? Como não??? Você já se olhou no espelho? , eu queria gritar pra ele. Mas comecei a me preocupar com o sapato. Não queria tirar, não queria mostrar minhas unhas sem fazer, com calos e sabe deus como mais. Mas ele apenas apertou minhas batatas da perna, as duas, dobrou as pernas pra um lado e pro outro, perguntando “dói?” em cada movimento. Olhou meus olhos, minha garganta, minha pressão.
O exame terminou, eu respirei aliviada e voltei para a mesa. Depois de uma breve conversa, já de saída, perguntei:
- Pago lá na recepção né?
E ele:
- Não, é aqui pra mim mesmo.
Não pude me conter. Abaixei a cabeça, ri sozinha e em seguida expliquei que eu realmente não estava prepara para aquele exame, e que por isso estava também sem dinheiro, nem um real. “Posso pagar amanhã?” Quarto olhar estranho. Ele disse que sim, lógico, sem problemas. Conversamos mais algumas amenidades, falamos de livros e eu saí de lá rezando para que ele seja gay. Sim, porque, tudo bem, ele é médico, mas não é justo ser exposta a uma situação tão patética e ainda descobrir que o cara, além de lindo, educado e fofo, ainda é macho.