Já estamos sentados há duas horas nos pufs da sala nova da minha casa nova. O vinho já está fazendo o seu efeito e nossos braços estão encostados. O calorzinho da sua pele é aconchegante como um bolinho de chuva à tarde. Tudo em você cheira chiclete de morango e a única coisa que eu tenho vontade é de convidar pra brincar de casinha por um tempo.
Falamos de tudo, pulamos de um assunto para o outro como se brincássemos de elástico. Família, comida, livro, trabalho, sexo bom, baladas, sexo ruim, sonhos, possibilidades. Os pufs tomam a forma do nosso corpo e eu só não quero que seu braço desencoste do meu. São 6 anos em 6 meses. Tenho a sensação que ninguém jamais me conheceu tão bem e isso me assusta. E quando eu fico assustada tenho vontade de pedir pra alguém me abraçar. Mas não peço para você me abraçar porque o próximo passo pode ser pegar uma carona no seu skate até a sorveteria.
Enquanto conto mais uma das minhas histórias malucas você sorri apertando os olhos e mostrando nas covinhas o charme que você já aprendeu a usar. O meu senso crítico foi pro ralo já faz um tempo. Provavelmente no dia que filosofamos sobre tipos de cama. Conto mais uma história, patética, apenas para ver seus olhos apertando novamente. Você sorri olhando nos meus olhos e eu penso que o tempo é uma merda mesmo.
Resolvemos tomar a última taça de vinho. Antes de levantar você segura minha cabeça e beija meu rosto com força. Vejo suas costas marcando a camiseta branca na ida e sua cara de bêbado feliz na volta e começo a rir. Você me xinga como sempre, quase um código pra dizer que na verdade está adorando. Tomamos o vinho e você me olha estranhamente, agarra minha cabeça com força e me dá outro beijo-estalado-sabor-uva no rosto. Quando me solta eu tento disfarçar meu sorriso ginasial. Inclino a cabeça para trás e fico quieta, esperando essa turbulência passar. Afinal, sempre passa.
Um comentário:
o.o
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