quinta-feira, março 29, 2007

Curva Dramática

Na construção de roteiros, seguimos uma curva dramática. Quase todas as cenas possuem uma e o filme inteiro é coordenado por uma curva dramática maior. Essa curva consiste no crescimento da situação dramática até o cume e então ela começa a descer, até voltar a “normalidade”.
Na vida real seguimos o mesmo padrão. Se conhecemos um novo amor, entramos na curva dramática, o amor é crescente até que chega no ápice: um momento onde tudo se resolve, ou você casa ou você separa. E aí as coisas se estabilizam por um tempo.
Quando começamos em um novo emprego a situação é a mesma. Por um tempo a empolgação com as descobertas, com as vitórias e até mesmo com as derrotas é imensa. Cada novo projeto é acompanhado com todo o seu sangue e coração. Você passa noites em claro pensando em como solucionar aquele problema, como dar uma solução ideal para o seu cliente, como fazer todos saírem sorrindo de uma reunião de cinco horas.
Mas aí o tempo passa. O cliente se mostra muito mais chato e insuportável que o esperado. Você já não tem mais paciência de tentar agradá-lo como se fosse sua mais nova amante. Chega a conclusão que nem por sexo teria tanto trabalho. Chegamos então na nossa curva dramática. É nesse momento da vida que tomamos decisões sérias: mudo de emprego ou continuo nessa vida estável e previsível? Mudo de cidade ou me contento com a vida igual a dos meus pais? Vou para outro país ou fico feliz com o pedacinho da Terra que eu já conheço?
A curva dramática, nos grandes roteiros, é friamente calculada pelos escritores, para deixar o telespectador ligado na história, presente no que acontece com os personagens. É ela também a responsável por ficarmos com as mãos suadas, tensos, esperando para descobrir o que afinal irá acontecer com o mocinho.
Na vida real não planejamos a nossa curva dramática. Ela acontece, depois de um certo período de tempo. Mas de repente, pode ser esse o nosso erro. Se talvez começássemos a escrever a nossa própria história, com a caneta em punhos o tempo todo, talvez pudéssemos calcular melhor o momento certo de sairmos de cena e deixarmos nossos telespectadores na expectativa de saber o que irá acontecer a seguir.

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