Moro na mesma rua a mais ou menos 15 anos. Estudei no mesmo colégio até o final do colegial. Fazia praticamente o mesmo caminho a pé todos os dias, durante muitos anos.
A dois quarteirões de onde moro, passava sempre por uma casa onde moravam duas velhinhas, irmãs. No começo, a casa me apavorava. Era grande, uma sobrevivente chácara da época em que a Vila Pompéia era povoada de casas enormes e terrenos cheio de verde. Elas ficavam sentadas na varanda da casa, em duas cadeiras de balanço, viradas uma pra outra. No jardim da frente, sempre bem cuidado, um anão de cerâmica olhava sorrindo para os passantes. Ele me dava arrepios.
Com o passar dos anos, acostumei com aquela paisagem tão familiar. Comecei a imaginar a história daquelas duas mulheres que viviam ali, na calma de sua fortaleza sobrevivente. Os prédios começaram a invadir o bairro, a rua, o quarteirão. E elas lá, sempre sentadas em suas cadeiras. Entrei na faculdade e continuei fazendo aquele caminho, do ponto de ônibus a minha casa. Uma das velhinhas morreu. A outra continuou lá, ainda por um tempo.
No meu ultimo ano de faculdade, voltando um dia da aula, percebi que a casa estava toda fechada. Assim ela permaneceu por todos esses últimos anos. Nunca falei com elas, mas perdi o medo, criei uma simpatia por aquelas duas vovós com cara de quem aproveitou a vida e agora só queriam viver em paz.
Duas semanas atrás, fazendo o rotineiro caminho, levei um susto. Demoliram a casa. Pude ver o real tamanho daquele terreno, impressionante. No lugar, levantarão mais um prédio com 2 ou 3 dormitórios, 1 suite, 2 ou 3 vagas, 110m² de área útil, com área de lazer, spa e piscina.
As pessoas que irão morar neste prédio jamais imaginarão toda a história, emoções, alegrias e tristezas que as antigas proprietárias passaram naquele mesmo lugar.
E assim, um bairro vai perdendo sua história, sua memória, suas belezas, em nome da modernidade e do capitalismo selvagem que vivemos.
Saudade do tempo em que aquelas velhinhas e aquele doende esquisito sorriam pra mim na hora do almoço, quando voltava feliz do colégio pensando no meu futuro.
sexta-feira, julho 13, 2007
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2 comentários:
Carol...
Fiz uma breve viagem de volta ao passado agora...
Muito triste mesmo, eu também lembrei da casinha dos anões quando vi tudo demolido...
Saudades dos tempos de EMECE! hahahaha
Beijos daquela amiga que você conheceu há 15 anos atrás, quando as irmãs velhinhas ficavam sentadas na varanda.
Ah, dar lugar a um prédio com 2 ou 3 dormitórios, 1 suite, 2 ou 3 vagas, 110m² de área útil, com área de lazer, spa e piscina, sim.
Quem sabe para o lugar onde um casal terá sua primeira casa, onde eles começarão sua vida, e terão seu primeiro bebê. Área útil, com espaços de lazer, onde alguns vizinhos se tornarão bons amigos, e um dia estarão um para o outro, quando preciso. Um spa onde duas pessoas descobrirão pontos em comum, uma piscina onde futuros namorados se verão pela primeira vez, apenas um espaço, que um dia também será demolido, mas com grandes lembranças. ;)
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