sexta-feira, julho 06, 2007

Vida de plástico

O ditado que diz que uma imagem vale mais que mil palavras nunca foi levado tão a sério. A imagem, nos dias de hoje, deixou de ser um fator importante para ser o único que realmente importa. Não importa o que as pessoas precisem fazer para conseguir a imagem perfeita.

Quando a coisa começou era apenas um peitinho de silicone ali, uma plástica na bunda acolá. Mulheres mais velhas, sofrendo os efeitos da gravidade. Era compreensível até.

Então as mulheres com menos de 30 perceberam que poderia parecer ter 18. O que é paradoxal, já que as mulheres passam a adolescência inteira torcendo para ficarem com cara de mais velhas. Mas eu sei, você sabe e elas também sabem: mulher é incompreensível mesmo. No fim, achamos normal uma menina de 20 anos, com o corpo perfeito, ou absolutamente moldável com um pouco de exercício e amor próprio, colocar 300ml de silicone de cada lado.

Mas aí a coisa começou a ficar assustadora. Não basta ter o corpo perfeito. É preciso ter a vida perfeita, o namorado/a perfeito, o carro do ano, o celular da moda, a roupa de marca, o sapato do momento, freqüentar as lugares mais famosos, a academia da hora, o restaurante natureba que saiu na capa da revista das celebridades, tomar a água que a famosa disse que toma.

Criar os filhos também parece ser uma corrida ao troféu de perfeição. Crianças com 9 anos de idade já possuem um currículo melhor que muitos adultos por aí: 10 horas de estudo por dia, aulas de inglês, espanhol, alemão, balé e judô. Agora existe ofurô para crianças estressadas. E tudo isso parece absolutamente normal.

As pessoas andam apressadas nas ruas, trombam em outro ser humano e nem percebem. O importante é chegar logo lá. No topo. Lá onde a água é sempre azul, o cenário é sempre perfeito, os dentes são sempre brancos e as barrigas saradas. Lá, onde o mundo é outro, as guerras, a fome, o trânsito, não existem. Chegue logo na ilha da perfeição e seja mais um feliz proprietário de tudo que não irá te trazer exatamente felicidade. Mas felicidade ninguém consegue ver, pegar, invejar. Não precisa.

Assisto uma matéria que denuncia a paranóia das meninas que sonham com corpos vistos em revista e se privam de comer até mesmo o necessário para a sobrevivência. Mudo de canal e acompanho um merchan, no meio da tarde, de uma clínica de estática que parcela a sua plástica em até 24 vezes, para você finalmente realizar seu sonho: a vida de plático já pode ser comprada, parcelada e programada pra chegar na data que for melhor para você.

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