Carta para o coração

Meu querido amigo, sei que ando te maltratando. Mas você precisa entender que faço tudo isso para te proteger. Por isso, analisando minhas últimas escolhas, resolvi tomar uma atitude.
De hoje em diante, por um tempo indeterminado, quem vai comandar os sentimentos dentro desse corpo é o cérebro. Senhor dos comandos motores, voluntários e involuntários, o grande órgão supremo que vive dentro da minha cabeça foi o eleito para resolver toda essa crise. Ele e eu vamos analisar caso a caso, todas as paixões mal resolvidas, pessoas interessantes e divertidas, desejos e tristezas dos últimos tempos.
Aí, quando ele tiver organizado tudo, colocado cada coisa no seu lugar, cada pessoa dentro da importância devida, aí sim, eu deixo você voltar à cena.
Enquanto isso, meu querido coração, tire umas férias. Sei lá, vai pra praia, leve uns livros, apaixone-se pela arte, pela música, pela natureza. Você só não pode querer conhecer alguém. Já temos muitos “alguéns” para administrar e você não está dando conta.
Ficamos então combinados assim: o cérebro me ajuda a colocar a casa em ordem e você tira umas férias. A gente analisa as minhas últimas escolhas e as suas últimas decisões. Porque, sabe coração, às vezes você teima numas coisas... e eu, que não sei te dizer não, acabo pagando o pato. Mas agora isso vai ter fim. Não vou mais te maltratar, mas você também vai me ajudar, parando com essa mania de gostar de todos que aparecem com uma proposta meio vazia de uma vidinha temporariamente feliz.
Boas férias pra você, coração. O cérebro deseja que você seja feliz. Nos vemos na volta, com a casa em ordem.