domingo, junho 07, 2009

Voo Livre

Por muito tempo ela vagou por aí. Tudo era um pouco mecânico, seguia os passos que já haviam sido pré-determinados. Embora arrastasse a vida sem muito mistério, sabia que algo grande estava por vir.
Um dia, após uma verdejante refeição, enquanto mudava de galho, percebeu que havia chegado o momento de concentrar suas forças para a grande mudança.
A primeira medida foi procurar um bom lugar para ficar. Isso tudo levaria um tempo. Achou a estadia ideal: confortável, protegida e segura. Ninguém na vizinhança entendia seu comportamento. Estranha? Apenas para aqueles que não conheciam aquele sentimento. Libertação era pouco para definí-lo. Instalou-se e deu adeus ao mundo. Temporariamente.
Silenciosaquietação foi dominando seu corpo. Em poucas horas entrou em um estado transcedental. Não estava morta. Não estava dormindo. Consciente de toda a transformação que acontecia naquele momento, dormitava.
Seu pensamento viajou por lugares onde nunca esteve. Definiu rotas. Aproveitou cada segundo daquele retiro para encontrar seu verdadeiro sentido de viver. Profundamente concentrada, intensamente relaxada.
O tempo passou. Nunca pode dizer quanto. Mas não lhe importava. Quando chegou a hora, soube exatamente o que fazer. A mudança estava completa e agora era tempo de voltar ao mundo.
Com cuidado e um pouco de dificuldade, rasgou delicadamente seu casulo. A luz do sol penetrou pelo pequeno buraco e ela pode sentir a alegria de reencontrar a vida. Levou um dia inteiro para abrir sua passagem completa.
Quando saiu, esticou completamente suas asas. Eram lindas. Azul cintilante. Eram muito mais bonitas do que jamais pode imaginar. Sentiu um nó na garganta, um frio no pequeno estômago, que implorava por comida. Nunca voou antes. Mas, de certa forma, já sabia o que fazer. Como se, durante o tempo de hiberno-transformação, houvesse estudado um manual completo.
Ajeito-se na ponta da folha e concentrada, bateu as asas. O vento era pura frescoliberdade. O mundo era todo seu. As joaninhas que morressem de inveja. Ela era, sem dúvida, a borboleta mais bela e feliz daquele imenso jardim.

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