quarta-feira, agosto 19, 2009

O cara do fundo da foto

Não era uma pessoa diferente, mas também não era muito comum. Mesmo de óculos, camiseta e jeans, tinha alguma coisa nele que brilhava. Não sei bem se eram os olhos ou os dentes brancos, pequenos, num sorriso quase full time. Falava devagar, como se saboreasse cada palavra antes jogá-las no ar. Mexia as mãos de forma nervosa, como se estivesse tentando controlar os movimentos para não revelar seus reais desejos.
Não gargalhava, nem fazia muito barulho quando ria. Contava piadas e esperava a reação dos outros com um olhar perdido no horizonte, como se repensasse o que acabara de dizer.
Era tímido, mas gostava de falar vez ou outra sobre sexo, jogando o tema na conversa como quem lança um anzol na água. Sobre qualquer outro assunto, falava sem parar, talvez para evitar um silêncio mais íntimo. Mas tentava me desvendar com um olhar lateral que seguia a mesma linha de um sorriso malicioso. Era o cara no fundo das fotos. Aquele que morre de vontade de fazer bagunça, mas está lá atrás, se contendo, sorrindo nervoso, esperando dispararem logo o flash.
Não o conhecia muito bem ainda, era coisa recente. Mas ele me provocava uma curiosidade engraçada toda vez que nos víamos. Aquela alguma coisa que brilhava. Podia ser o senso de humor ou até mesmo o ar levemente sério em tudo que falava. Ele não era de beijos longos. Mas gostava de abraços demorados. E eu sempre terminava nossos breves encontros com o perfume dele em mim.

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