quinta-feira, setembro 03, 2009

De passagem

A revista estava pouco interessante e o café gelava em cima da mesa. Entediada, olhava para porta toda vez que abria e ao ver que não era ninguém interessante, baixava os olhos para as páginas coloridas novamente. O movimento repetia-se automaticamente, tediosamente. Então a porta abriu num ruído, olhei um pouco mais atenta. Com algumas sacolas na mão, mochila, jeans, um casaco com capuz por cima de uma camiseta estampada, óculos de sol. Em um movimento estranhamente harmonioso, você tirou os óculos e sorriu um sorriso branco de propaganda de pasta de dente. No mesmo ritmo, fechei a revista, dei um gole no café e fiquei observando.
Sentou em uma mesa, deu um sinal simpático para a garçonete e pediu um capuccino e um pedaço de bolo. Um amigo chegou e você sorriu novamente e eu rezei para que fosse uma conversa feliz, porque queria ver aquele sorriso até meus olhos decorarem os detalhes.
Enquanto falava, você passava a mão pelo cabelo, que era levemente ondulado. Uma mecha insistia em cair sobre os olhos. Eu saboreava cada detalhe dos seus movimentos enquanto você devorava o bolo de chocolate. A cada garfada, fazia uma cara de aprovação, depois dava um gole no café e então fazia um comentário inteligente, ou então soltava uma gargalhada satisfeita. Sua voz, um pouco rouca, reverberava em cada canto da minha cabeça.
Comecei a imaginar sua história. De onde veio, para onde iria, quais seus sonhos, seus desejos. Imaginei um jantar romântico, o primeiro encontro, que tipo de filme você assite, qual livro estaria lendo agora. Queria conseguir sentir o seu perfume, imaginei qual shampoo usava.
O tempo passou rápido demais e quando percebi, você já estava pedindo a conta. Levantou para dar um abraço no amigo. E por segundos, que no meu mundo duraram horas, você me olhou. Olhos nos olhos mesmo. Pegou a mochila e as sacolas, puxou a porta e olho para trás, para um último tchau. Colocou os óculos e passou pela vitrine do café. Observei você caminhar até perder de vista e ainda fiquei ali, olhando mais um pouco, imaginando onde você estaria indo. Voltei para a revista entediante, tomei um gole do café gelado e me conformei com o fato de que as vezes pessoas interessantes estão apenas de passagem.

Um comentário:

Feliz disse...

por isso temos que aproveitar as oportunidades que a vida, essa vadia, nos oferece. beijo.